O que é a dança? Pode qualquer movimento ser dança? É apenas um movimento num tempo e espaço? Não sabemos se foi a isso que Jacopo Jenna se propôs a responder ou não, porque cada um tem a sua interpretação daquilo que vê. Mas “Some Choreographies”, um dos projetos selecionados para a Aerowaves Twety22, parece tentar fazê-lo.
Uma bailarina sozinha em palco. Acompanha a entrada dos espectadores com o olhar e vai-se movendo. Até aparecer, no ecrã atrás de si, um vídeo. Há um corpo que se move, balança os braços. Ramona Caia, a bailarina, imita. É Yvonne Rainer no filme “Trio A, The Mind is a Muscle”.
A imagem muda. E o movimento da bailarina também. A coreografia vai acompanhando a projeção. Imagens, às vezes, de milésimos de segundo. Às vezes, gestos que são considerados passos de dança. Outras vezes, gestos que são gestos do quotidiano. Mas são, neste contexto, dança?
Yvonne Rainer a abrir não foi, certamente, escolhido sem um objetivo. A dançarina, coreógrafa e cineasta americana, reivindicava, já nos anos 70, que, “quando se fala de dança, o movimento nem sempre é visível e exterior”.
“Some Choreographies” apresenta-se quase como um jogo entre a bailarina e os vídeos no qual Ramona Caia os executa. Do ecrã para uma coreografia. São imagens de outros bailarinos, de rituais, de danças tradicionais, do haka da equipa de rugby neozelandesa, mas também o boxe, o yoga, discursos, simples passos na rua… Conta-nos como que uma história, a da dança. A história que não vive só dos coreógrafos e bailarinos que hoje conhecemos, mas a história que atravessou um mundo que não parou – com guerras e todas as lutas sociais.
Na segunda parte, as imagens mudam. Deixamos as pessoas de lado e o vídeo de Roberto Fassone leva-nos a uma viagem pelas paisagens e por outros seres, por onde a mão do Homem raramente passa. As músicas acompanham e as letras fazem também parte. Que relação há entre aquilo que vemos e as coreografias que, tantas vezes, vemos em palco?
Quase como se a dança do corpo de Ramona Caia desse lugar à dança da natureza. Ao que todos os dias vemos e nem nos apercebemos. Deixamos passar entre a rapidez do dia a dia. É aqui o lugar onde podemos abrandar. E é aqui que voltamos a dar ouvidos a Yvonne Rainer. Há um movimento interior que aqui se vê.
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