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Foto do escritorJoana Miguel Meneses

GUIdance: Escondido na diferença

A Maria treme como ninguém. Ninguém consegue tremer como a Maria. E talvez isso seja uma entre muitas outras coisas que fazem com que Blasons + Doesdicon seja tão único. A Maria teve um tumor no cérebro, fez várias cirurgias e parte do cérebro foi retirada. Mas a Maria sobe a palco e mostra-nos que, como nos disse Cláudia Galhós na conversa com as escolas de dança de Guimarães, “tem um domínio que é só dela”. Na verdade, há movimentos que, quando postos em palco, com luz e música – ou não – passam a ser arte. E só alguns corpos conseguem fazer alguns movimentos de algumas formas.


© Cláudia Crespo

Esta sexta-feira voltamos a encontrar-nos com a companhia Dançando com a Diferença. . Vestidos de negro, oito bailarinos apresentam-se em palco. A repetição. As emoções. Começamos a ver “Blasons” de François Chaignaud. Os segredos que se passam. O que se escrever.


“O brasão torna-se um ato de empoderamento, através do qual se recupera a legitimidade da própria perceção”, lemos na sinopse. E em torno de Clément Marot, explica François Chaignaud, um grupo de poetas da corte compromete-se coletivamente a brasonar partes do corpo feminino. Os bailarinos comprometem-se a recuperar a dinâmica do brasão e a revertê-la.


Entre luz verde e num espetáculo em que a música cria um impacto fortíssimo, “Doesdicon” (um anagrama da palavra escondido), de Tânia Carvalho, traz o enigma e o ambiente clownesco a palco. Serão marionetas?


Duas meninas que aparecem sempre juntas, a incerteza e a insegurança. Uma caixa de música que, de repente, parece acabar. A sombra e o escuro.


Dançar sem tabus e com a certeza de que qualquer corpo o pode fazer

Dançando com a Diferença surgiu como um projeto piloto no ano de 2001 na Madeira. Pretendia-se implementar atividades de Dança Inclusiva, inexistentes na Madeira naquela altura. Anos mais tarde, constituiu-se como uma companhia profissional que, atualmente, tem vários objetivos destacando-se, entre eles, a possibilidade de juntar em palco pessoas com e sem deficiências por uma só causa: dançar.


Antes de vermos o espetáculo, assistimos a um ensaio técnico. A diferença é enorme, mas a magia da dança parece maior ainda. “Assustado!”, “bonecas” ou “bruxas” foram algumas das palavras que ouvimos para dar deixas aos bailarinos. Exatamente igual a qualquer outro ensaio técnico. Não há diferenças entre ninguém, não há uns darem mais ou menos que outros. Há, sim, a certeza de que qualquer corpo pode dançar. Apesar de, como nos diz Henrique Amoedo, diretor artístico da companhia, haver, às vezes, trabalhos específicos para alguns bailarinos, todos eles são capazes de tudo. 


Aqueles corpos, explica Henrique a forma como trabalham, “são como bibliotecas e cada técnica é um livro que a gente coloca ali”.


Um espetáculo que é a certeza de que estas pessoas não têm uma incapacidade, têm uma outra forma de ser e isso é usado como uma qualidade. E que nos deixam com (ainda mais) vontade de procurar o que está escondido. “Há coisas maravilhosas que estão escondidas”, alertou Cláudia Galhós no final da conversa. 


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