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O que me faz sorrir? Saber que tenho pessoas bonitas comigo. Saber que alcanço os objetivos que espero alcançar. O sol faz-me sorrir. E a chuva ainda mais. O verão. E o inverno. O sorriso dos outros. Um café às segundas, um beijo de bom dia dos pais e dos amigos, um bom dia de alguém que se cruza comigo. Alguém que me sorri nos transportes. Não é incrível quando o autocarro chega ao mesmo tempo que eu e não tenho de esperar, ali, sozinha? Ou quando passava naquela disciplina que me andava a moer o juízo. Quando o sol chega antes de me pôr a pé. E quando entro no carro e está a dar a minha música preferida. Sinto-me feliz e nem sei. Sorrio nos jogos do Vitória e sou feliz quando vou ao estádio. Quando a estação muda e nem me apercebo que a primavera já passou. E quando, na rua, uma criança me sorri, só porque sim, porque deve ter gostado de mim. Sou feliz quando recebo uma mensagem de alguém que achava que estava desaparecido. Feliz como nas festas da cidade, feliz como quando ganho alguma coisa que não esperava. Sou feliz quando sei que vai tudo correr bem. Quando um desconhecido me diz olá, ou um funcionário de uma loja é simpático. Sou feliz quando a minha banda preferida lança uma música. Sou feliz quando me fazem uma surpresa e o almoço é o meu preferido. Feliz como quando como um gelado no bar da praia, quando as expectativas boas se cumprem, quando acabo um trabalho que parecia interminável. Feliz como quando conheço gente nova, como quando viajo, ou me dizem que estão orgulhosos de mim. Sorrio em aniversários e festas. E sorrio com fotografias bonitas. Sorrio quando não tenho nada para fazer e posso gastar o tempo a fazer o que quero. Quando percebo que tenho tudo, sou feliz. E sorrio. Quando canto no chuveiro. Sorrio quando me apercebo que sou feliz e nem tenho de pensar se o sou. Sorrio ao acender uma vela com o meu cheiro preferido e a abrir a janela pela manhã. Sou feliz quando aprendo uma nova língua e quando concretizo um desejo. Quando vejo um musical ou um teatro, quando vou ao cinema. Sou feliz quando já sei as falas de um filme e, mesmo assim, o continuo a ver.

Com dois anos disse à minha mãe que queria ir para o ballet, e tirei a fralda para o fazer, porque me disseram "mas as bailarinas não usam fraldas". E fui. Passei 15 anos da minha vida, mais coisa menos coisa, no ballet. E desde que deixei, tenho sentido muito a falta daquilo, a sério. Afinal de contas, cresci a fazer ballet, fiz o grau VIII da Royal, e, de repente, disse adeus. Mas tenciono voltar.

Como devem imaginar, depois de tantos anos, aprendi imenso. Com o fato de ballet vestido às vezes um dia inteiro, aprendi a fazer xixi sem o tirar, apenas desviando o fato. E vocês devem achar bué estúpido, mas acreditem, dá imenso jeito com vão à praia de fato de banho, por exemplo, e não têm de ficar nuas... Aprendi a mudar de roupa no carro, e em tempo recorde, porque às vezes os horários só tinham o intervalo da viagem. Aprendi ritmo - imenso -, o que me ajudou nas aulas de música na escola. Aprendi a enfrentar o desconhecido. Ir pela primeira vez para um palco pode assustar, como quando fazes algo pela primeira vez. Tem tudo para correr bem, mas pode correr mal. Enfrentas as luzes, uma sala cheia ou cadeiras vazias, os aplausos, o abrir das cortinas. Aprendi a controlar-me, não podia abrir as cortinas quando queria para ver quem estava lá, não podia ir à casa de banho a meio do espetáculo ou chorar se algo corresse mal. Aprendi a ser mais eu, as pessoas aceitam-te pelo que és e fazes amizades que só as são por isso. Aprendi a esforçar-me. Já viram alguém chegar longe sem esforço? Por muito que exista a estrelinha do talento natural, tens de esforçar-te. Aprendi a mandar pessoas à merda, porque podes ser incrível a fazer algo que gostas mesmo que te deitem a baixo, podes fazer o que queres, onde queres e quando queres. Aprendi a lidar com crianças e tornei-me mais responsável. Tendo ficado no ballet até tarde, ia criando ligações com os mais novos, ia ajudar nos espetáculos e às vezes dançava com eles. Aprendi a ser flexível. Se não podia ser hoje, era amanhã. Aprendi a gerir o tempo - e isto é dos pontos mais importantes que foco quando falo de atividades extra curriculares, ensinam-nos a usar todos os pequenos cinco minutos que temos para fazer algo -. Aprendi a dizer não, porque tinha ensaio, ou tinha aula, e não podia faltar. Aprendi a ver as coisas de outras perspetiva. Chegar onde não chegava pode ser algo super divertido enquanto faço um sauté, e atravessar a passadeira pode tornar-se diferente se treinares os teus grand jetés ou os classical walks. 

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