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Foto do escritorJoana Miguel Meneses

Entre Barcelona e Madrid, teremos sempre a música e a dança para nos salvar

Uno, dos, tres, cuatro, cinco, seis, siete, ocho, nueve, diez, once, doce. Doze bailarinos. Seis de Madrid. Seis de Barcelona. Madrid ou Barcelona. Não sabemos. Mas há a certeza de que “nos vamos a quedar”. Vamos ficar no lugar onde “Gran Bolero” nos leva.


© Cláudia Crespo

Jesús Rubio Gamo estava a tentar resolver algumas coisas na sua vida, nomeadamente a sua ligação com a dança que parecia estar a ser destruída pela rotina – “não sabia muito bem o que fazer”. Até ao dia em que se pôs a ouvir o Boléro de Ravel. “O Boléro é como um impulso para a frente”, escreve lembrando que se deixou ir e que “a música e a dança salvam da solidão”.


Primeiro, um dueto de 15 minutos. Hoje, 12 bailarinos.


A dança, para si, “faz com que o corpo tenha esperança”. Já a música “transforma o tempo em algo melhor”. “Gran Bolero” põe em palco as suas palavras. Através de seis bailarinos madrilenhos e seis barceloneses revisitamos o Boléro de Ravel numa energia que gastam juntos enquanto descobrem a individualidade de cada um num grupo. Revisitamos uma das peças musicais mundialmente mais conhecidas. Revisitamos o loop e aquilo que muitos consideram uma demência e uma cadência. Uma melodia repetitiva que nos faz entrar também dentro da coreografia.


“Gran Bolero” é, nas palavras do coreógrafo, “uma grande oportunidade para recordar que um dia decidimos confiar que a dança e a música nos iam salvar”. E salva. “Gran Bolero” salva. É sobre levar ao limite, ao cansaço e à resistência. A repetição da música é a repetição da dança. A repetição a que sempre se acrescenta algo. O rápido e o lento.


Corpos que se movem pelo espaço. Num movimento repetitivo. Círculos constantes. A corrida. E a pausa. Quase como um relógio que nos dá o tempo e cria no público uma sensação hipnótica, mas que não nos deixa cair no limite.


Às vezes, as contagens. “Uno. Dos. Tres. Cuatro. Cinco. Seis”. Outras vezes, as palmas rítmicas. Um grupo de 12 bailarinos que, muitas vezes, assume duplas ou trios. Numa sincronização que nos prende ao cenário.


No início, só percussão. Chega a ser difícil identificar o que ouvimos. Mas, tal como a coreografia, cresce. O Boléro de Ravel está lá. E canta-se. Vozes entoam-no, por vezes, pelo auditório.


Sente-se, ao terminar, a superação. Num momento onde os corpos se unem – mais ou menos despidos -. Onde deixamos de ser de Madrid ou de Barcelona. E passamos a ser não um, mas iguais. Não sendo relevante de onde vimos.


“Gran Bolero” faz-nos regressar a um local onde talvez nunca tenhamos, mas com a certeza de que já estivemos e nos cruzamos, alguma vez, com cada um daqueles bailarinos. Que merecem, a par do coreógrafo Jesús Rubio Gamo, uma salva de palmas de pé.




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