Sabem aquela mística de que se fala sobre ser vimaranense? Aquela magia de se querer aproveitar ao máximo tudo o que a cidade tem para oferecer?
Estávamos no primeiro fim de semana de agosto em Guimarães. Nas chamadas "férias grandes" de muitos. Antes disso, já os carrosséis chamavam por nós. E as farturas. Mas aquele fim de semana era o fim de semana da família. O fim de semana que nos levava a ver as luzes, a passear pela cidade, a ouvir muita música, a ver o passeio de charretes e a Batalha das Flores. E, como que num final apoteótico, o fim de semana que nos levava a beber limonada enquanto víamos a Marcha Gualteriana.
Não era só aquele dia. Era um caminho que se fazia diariamente e um passeio que se dava, de mão dada com a avó, para ver os pormenores que, de sábado a segunda, iam surgindo nos carros. Era o atirar papéis na tarde de sábado para os carros feitos com tanto amor e dedicação como os de segunda, mas que recebe menos atenção do público. Era, também, música nos carrosséis.
Mas depois crescemos. E os concertos são, um bocadinho, o nosso palco. São a hora de nos libertarmos e de percebermos que, talvez, "a beleza vai mesmo mudar o mundo". Este ano, foram a certeza de que a arte em Portugal está bem entregue. Mas, ao mesmo tempo, foram a insegurança de saber que fazer do berço Guimarães não te dá assim tanto futuro. E ainda que nada seja garantido - em cidade nenhuma -, há lugares onde te vão valorizar mais, onde vão apoiar os teus projetos e vão dar-te aquele empurrão que precisas para acreditar que também consegues.
E não sei se foi de mim ou do crescer. Ou se foi mesmo realidade. Mas não vi flores no ar. As pessoas quiseram guardá-las e preferiram tirar a cor à cidade. Não, as ruas não ficaram mais coloridas. Os carros estavam igualmente perfeitos. Mas o resto fez com que me distraísse disso. Também não ouvi música quando fui aos carrosséis. E nem metade do programa vi. Porque não nos desdobramos e é impossível.
Queria ter visto o fogo de artifício na Mumadona. Mas o pop ocupava a Plataforma das Artes, no Toural vivia-se um momento bonito de tradição e o fado traçava o destino de cada um em Donães.
E a Marcha parece que perdeu magia.
As ruas da cidade estavam estranhamente cheias. Não estavam. Circulava-se como nunca circulei na primeira segunda-feira de agosto à noite.
Foi o calor que se fez sentir? Ou serão as dores de crescimento?
E ainda que o trabalho te peça que vás a tudo, ou que não vás a nada porque "amanhã não é dia de folga", tu queres ir. Mas queres ver e absorver o máximo que consegues. Queres ver os pormenores todos, queres partilhar mais um abraço com quem partilha contigo mais um ano. Queres deixar para depois a preocupação de um trabalho que te paga as contas mas que não te enche o peito.
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