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Foto do escritorJoana Miguel Meneses

É sempre errado estar errado?

Num “elogio ao erro” e na certeza de que “estamos a ser cada vez mais treinados para acertar sempre” e que “não há tempo para o erro, não há tempo para desperdício de tempo”, a Plataforma285 propôs-se a fazer questões aos mais novos: o que é, afinal, estar errado?


© Cláudia Crespo

Desde 2015 que a Plataforma285 vem a Guimarães e, questionados sobre o porquê, a resposta foi quase imediata: “esta equipa é excepcional”. Fizeram, a convite d’A Oficina e do teatro Maria Matos um primeiro espetáculo para a infância. Na altura, Raimundo Cosme esteve cá a viver um mês e percebeu que existia um bichinho em fazer esse tipo de espetáculos, para a faixa etária entre os três e os seis anos.


Em 2019, quando pensavam num novo espetáculo, pensaram “imediatamente n’A Oficina”. “E é também essa razão pela qual nós voltamos a Guimarães, pelo voto de confiança”, disseram ao Mais Guimarães. Aqui, diz Raimundo, compreendem ou sentem que o trabalho da companhia “tem sido muito importante” e têm sentido “o eco do outro lado”.


Mesmo na formação com professores que costumam fazer sentem que se interessam pelos mesmos temas e que “a displicência, lata e sentido de humor agrada, de alguma forma”. São, aliás, ferramentas que “têm sido boas para trabalhar” sobre os temas que propõem. E os espetáculos acabam, assim, por se “encadear todos uns nos outros”, quase de uma forma que parece que estão “a falar das mesmas coisas, mas de formas muito diferentes”.


“eRrAdO” nasce, então, precisamente dos espetáculos anteriores, quando começaram “a perceber algumas resistências institucionais e escolares” e através das formações que fizeram com professores e crianças. Raquel Bravo, diretora de produção na Plataforma285, lembra “esta coisa do erro e dos desenhos todos certos”. Foi quando começaram a perceber que tinham “pano para mangas”.

Na nossa vida e do dia a dia, interrompeu Raimundo Cosme, passa-se o mesmo. “Estamos a ser cada vez mais treinados para acertar sempre, não há tempo para o erro, não há tempo para desperdício de tempo”, disse acrescentando ainda que, “se nós sentimos isto a partir de certa altura da nossa vida, estas crianças já estão neste ritmo desde que nascem”.


“Quão importante seria pensar um projeto para a infância que vê no erro uma oportunidade de experimentar sem ter que acertar?”, questionou o ator. O objetivo seria sempre “só experimentar, ver até onde é que se consegue ir e reclamar este tempo este direito ao erro”.


Esta peça vem, assim, na sequência de outros projetos que acabam por ser sempre uma procura e uma investigação. “Não há uma resposta, a ideia é que existam ainda mais perguntas”, explicou Raquel lembrando que é esse trabalho que tem interessado à companhia, principalmente para esta faixa etária.


Com tantas borrachas em palco, poderá esta ser uma crítica ao modelo de ensino que se estende a toda a comunidade? Raimundo não tem dúvidas: “é um pensamento sobre o mundo – onde o modelo de ensino também está integrado -, mas transcende”.


Um pensamento, também, sobre “este tempo de as crianças poderem brincar, poderem ter alguma liberdade para poderem experimentar e aprenderem com esses erros, porque estão cada vez mais condicionadas a ficar enclausuradas ou nos seus horários das 500 mil atividades que têm. Não têm esse tempo para experimentar”, completou a diretora de produção.


Entre risos e muitas questões dos espectadores mais novos, “eRrAdO” subiu a palco no Centro Cultural Vila Flor com “espaço para a interação”. As camadas sonora e visual presentes na peça – e o próprio diálogo – provocam reações imediatas e Raimundo explica-o porque a companhia quer “sempre trazer perguntas e dar menos respostas”.


“Saem daqui, alguns, muito baralhados. Os professores interrogam-se sobre a relação que temos com o erro e sobre a relação que eles próprios têm com o erro e de que forma é que gerem isso”, completou.


Da régie, Raquel Bravo tem uma visão privilegiada. Destaca, por exemplo, “o controlo e a linha invisível de os professores também ficarem descontraídos ao perceberem que as crianças estão num espaço onde podem partilhar e que, se estão a ser estimulados, podem comunicar”.


Daquilo que consideramos tantas vezes errado, podem nascer outras muitas coisas, e é preciso pensar sobre o lugar do erro. Tem que haver espaço “para o erro e para a criatividade”. As crianças, explica Raimundo Cosme, “sabem perfeitamente que a relva é verde. Não é por pintarem a relva azul ou por não pintarem a relva que eles não sabem o que é a relva e que a relva é verde”.


“É importante que os pais não sintam que um filho vai ser menos inteligente ou vai estar alheado da realidade por conseguir imaginar”, terminou o artista. Valentina Carvalho, intérprete de Língua Gestual Portuguesa e cocriadora da peça, completou ainda lembrando que “é importante dar espaço ao erro e deixar que o erro deixe de ser um erro para ser um estímulo, para descobrir coisas novas”. Tudo isto, sempre com o alerta de que há coisas que são sempre um erro como “bater, dar pontapés ou roubar”, como disseram as crianças que assistiram à última sessão de Guimarães.


Como é que vocês sabem que não há um vulcão que deita pipocas?



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