Uma ida a pé para um interturmas no Multiusos, em 2009, fez com que um grupo de amigos da escola secundária Martins Sarmento quisesse participar no FundaSound, uma mostra de música pop de Guimarães. Fundaram os LightFingers para concorrer e para se mostrarem à cidade berço. Já como Virar DaSquina, na segunda edição, apresentaram-se com “Houvesse Lágrimas” e “Drive Away”.
Ana Catarina Rodrigues, vocalista, e Nuno Meneses, teclista, estiveram na formação inicial dos Virar DaSquina. “O bichinho ficou e queríamos dar continuar à banda”, confessou a voz da banda. Precisavam de uma bateria e é aí que surge João Cunha, a bateria que se ouvia na rua do liceu. Bateram à porta do Cunha e “correu bem”. Foi num evento do Zeca Afonso que lhes disseram que um baixo podia ser boa ideia e aparece Mário Ribeiro, que tocava baixo antes de entrar para o grupo, mas foi com este que acredita ter evoluído. “Participei em vários projetos com o Cunha e, eventualmente, os Virar DaSquina precisaram de um baixista”, recorda. Jorge Gameiro já os conhecia há muitos anos, porque tocava noutras bandas e, às vezes, cruzavam-se em palco. Já tinha até mandado uma mensagem a perguntar se precisavam de um guitarrista, mas apenas em 2018 passou a fazer parte do grupo musical.
Daqui, surge o próprio nome Virar DaSquina. As opções eram muitas, mas este acabava por representar o percurso dos vimaranenses. “Virar de página, ninguém sabe o que está ao virar da esquina”, explicam adiantando que acabaram por criar o conceito e toda a base da banda. “Não podemos fazer coisas só porque sim, tens que dar continuidade a uma história. Então baseamo-nos muito no nome e acho que todas as músicas passam por aí. Ao minuto 00:35 começa uma nova melodia e acho que foi assim que encontramos a nossa entidade. A nossa identidade musical está completamente no nome Virar DaSquina”, garantem. Dizem que não gostam de se categorizar por isso mesmo, são uma fusão de tudo aquilo que os inspira. “Neste CD até tens um bocadinho de fado”, destaca Jorge Gameiro.
De Pedro e Inês aos Cantos dos Lusíadas
“Até ao Fim do Mundo” foi o primeiro álbum do grupo. “Foi de uma música que escrevemos em inglês que surgiu a ideia de começarmos a fazer um álbum baseado em história portuguesa concetual, mas dando uma reviravolta tornando-a mais nossa do que propriamente ela é”, recordou João Cunha. Com a ajuda de Paulo César Gonçalves, e acreditando que sem a ajuda dele “não conseguiam colocar a intensidade que têm as letras”, escreveram.
A escolha de cantar em português não foi difícil, uma vez que o conceito assim o pedia. Para Mário Ribeiro, “se o conceito do álbum era contar histórias de Portugal, só assim fazia sentido”. Nuno Meneses aproveitou para explicar a decisão de contar Portugal a cantar. “As músicas iniciais eram sobre uma prostituta e a vida na noite e a prostitua. Quando falamos com o Paulinho para escrever, a história mais próxima que podíamos adaptar era a história de D. Inês e D. Pedro. Claro que ficou muito mais suave”.
O segundo álbum da banda, “Mar Sem Fim”, foi apresentado este mês e é quase uma continuação do primeiro. “É outra vertente da história portuguesa”, argumenta João Cunha. Inspirados pela viagem de Vasco da Gama e pelos Cantos dos Lusíadas, os Virar DaSquina deixaram-se levar pela imaginação e construíram uma narrativa na qual se pressente a leitura de Júlio Verne e uma solução otimista para um mundo paralelo.
Escrever um álbum não é tão fácil como muitos pensam. Primeiro, pensam no conceito do álbum e decidem sobre o que querem falar – desde o submarino, às ninfas, ao monstro – e o que contar em cada música para chegar ao final pretendido. Para o baterista, “a progressão no álbum não é só pela letra, mas também pelo instrumental. Cada instrumental está adaptado ao tema da música”.
Para a gravação de “Mar Sem Fim”, contaram com o apoio do programa de Apoio aos Agentes Culturais 2021, da Direção Regional da Cultura do Norte, e do IMPACTA, programa do Município de Guimarães. Hoje em dia, com a pandemia, “com os apoios que se deram, houve muitas mais pessoas que começaram e se deram a conhecer”, admitem. “Se não tivesse acontecido a pandemia e não tivessem aberto mais apoios para as pessoas da casa, não sei se nós íamos conseguir”, lamenta a banda que recorda a forma como gravaram o primeiro disco entre risos: um crowdfunding e rifas.
A ideia é que os próximos álbuns estejam ligados, como se de um inception se tratasse. Levantando o véu para o que podemos esperar, dizem que “começamos com a história de Pedro e Inês, estamos nos Lusíadas, mas os Lusíadas abordam a história de Pedro e Inês. Já temos uma história para o futuro e será também algo do género”.
Sair do circuito e voltar a entrar
Consideram que “há muito boas bandas em Guimarães” e têm a noção de que saíram do circuito e que “vai custar voltar a entrar”. “Já não somos aquela novidade, mas continuamos com os nossos contactos e conhecemos pessoas. Quando engatarmos outra vez em concertos, em aparecer e em estar com as pessoas, aí vai ser mais fácil entrar outra vez”, acredita a vocalista.
“Antigamente, íamos a tudo o que era bares e havia imensos bares que faziam concertos. Mas mesmo o que nós queremos apresentar agora também não se adequa a todos os bares”, acrescenta João Cunha.
“Eu sei que isto vai ser um projeto de vida, porque isto não é um trabalho, é um ginásio mental. É a forma que nós temos de libertar toda a potência criativa que temos, frustações, alegrias, e passar isso para uma música. Acho que é saudável, ainda que velhinhos, continuar a fazer isso. Ainda que não seja profissional, vai ser sempre um encontro de bons amigos”, terminou Ana Catarina Rodrigues.
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