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Foto do escritorJoana Miguel Meneses

No Festival de Canto Lírico “não interessa a questão puramente artística”

A quinta edição do Festival de Canto Lírico de Guimarães desdobra-se em dois anos, apresentando uma tetralogia operática original, composta, escrita e encenada por quatro compositores libretistas e encenadores portugueses contemporâneos. Um evento que se “começa a consolidar de maneira firme no calendário cultural de Guimarães, da região” e, espera a ASMAV, no país.


© Mais Guimarães

Francisco Teixeira, diretor artístico do Festival de Canto Lírico de Guimarães, acredita que esta quinta edição “decorre de uma ideia muito especial e importante”, até porque, referiu, acontece por altura da comemoração dos 200 anos da Constituição de 1822 e da independência do Brasil, e dos 50 anos do 25 de Abril.


Pegando, assim, na ideia de celebrar a democracia e o constitucionalismo liberal, apresentam-se quatro obras originais, duas apresentadas em 2023 e duas em 2024, e que representam quatro Constituições: “1822 – Mau Tempo em Portugal”, “1911 – A Conspiração da Igualdade”, “1976 – A Evolução dos Cravos” e “2030 – A Nova Ordem”.


A ambição, diz Francisco Teixeira, é que “este seja o início de um processo em que a ópera possa ocorrer regularmente em Guimarães”. Destacou ainda o facto da “Tetralogia Operática Sobre quatro Constituições Portuguesas” ter vencido o segundo lugar no concurso nacional das áreas da Música e Ópera (Criação) do Programa de Apoio Sustentado 2023-2026 lançado pela DgArtes.


Fernando Marinho, maestro titular da Orquestra do Norte, referiu, na apresentação do evento, que “é uma honra muito grande poder ter uma orquestra regional associada a um projeto que em termos nacionais vai projetar aquilo que é a criação para o futuro”. As peças vão “exigir muito trabalho e um trabalho exaustivo”, mas há a certeza de que “vai ser muito reconfortante”.


Lembrando que Guimarães é um parceiro muito antigo da Orquestra do Norte, o maestro espera que este projeto “seja um abre portas para que outros projetos – e o nosso país precisa deles – ganhem asas”.


Já Jorge Salgueiro, diretor artístico global da tetralogia, destacou, no seu discurso, a parceria entre a cidade berço e Setúbal. “Gostávamos de replicar em Guimarães algumas coisas que fizemos em Setúbal e em Setúbal algumas coisas feitas em Guimarães” disse revelando que tem o sonho de criar em espelho um festival de Canto Lírico nas duas cidades.


“A informação informa, a cultura forma”


Do Festival de Canto Lírico referiu algumas particularidades, nomeadamente “a descentralização que é feita não apenas na relação com a centralidade de Lisboa, mas também na relação com bairros municipais, aldeias e lugares inóspitos onde a cultura erudita menos frequentemente está”. Destacou ainda a criação nacional uma vez que do evento fazem parte quatro compositores, encenadores, escritores e artistas plásticos diferentes. “É um trabalho de estímulo à criação que enriquece o nosso país e nos faz descobrir a história do mesmo e pensar sobre o que é a liberdade, que problemas vamos enfrentar”, justificou dizendo que “não interessa a questão puramente artística, mas também social e de intervenção política”.


Presente esteve também o maestro Vitorino de Almeida, que garante que está a ser “extremamente fascinante trabalhar numa ópera que já não esperava fazer”. “Sinto-me feliz e honrado por estar a trabalhar num projeto como este que é raro não só em Portugal mas em qualquer país”, disse.


“Vivemos numa era marcada pela informação, mas a informação informa, a cultura forma. É com música, livros, discos, que se dá cultura”, vincou.


A descentralização foi também um dos temas destacados pelo maestro. “O que me dá esperança neste país é tudo o que é excêntrico a Lisboa. O centro é um centro muito esquisito, muito fechado em si próprio”, explicou. E Francisco Teixeira, que concordou, foi rápido na resposta: “Guimarães é a centralidade cultural no país em muitos domínios. Há a velha conversa de que a ópera é muito difícil, mas a mais difícil é a que não é vista nem ouvida”.


Dois anos, quatro peças


A primeira obra, que será apresentada a 22 de julho, já está composta e “foi e será um desafio musical e cenográfico e técnico”. É uma ópera na qual, “desde a abertura até ao último ato, se falará de liberdade”. Contará com a Orquestra do Norte, com direção de Fernando Marinho, e lembra dois homens de olhar particular: Marcos Portugal e Domingos Bomtempo. Já no final do ano, será apresentado “A Conspiração da Igualdade”, representando um “liberismo sem rei”.


Em 2024, “A Evolução dos Cravos” apresenta-se como aquela que será “a que mais imediatamente a todos toca”, e o festival termina com “A Nova Ordem”. Nas palavras de Francisco Teixeira, esta será “uma espécie de exorcização do que não queremos que aconteça, sobre uma Constiuição por vir que não queremos que venha”.


O vereador da Cultura, Paulo Lopes Silva, lembrou a primeira edição, quando “se falava que era quase impossível a apresentação de ópera em Guimarães”. Agora, na quinta edição, não nega: “este é um projeto que merece reconhecimento porque se insere na estratégia do município para a cultura”.


Neste sentido, a Câmara Municipal dá um apoio regular a projetos de interesse municipal que “são selecionados na área da cultura e que se consolidaram e estão afirmados na dinâmica cultural da cidade”.

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