Mickaël de Oliveira, que vai assumir a nova direção artística do Teatro Oficina por dois anos, já se instalou em Guimarães para dar corpo a um novo programa com forte dinâmica no domínio da criação. Na apresentação que decorreu esta manhã, no Espaço Oficina, fez, aliás, questão de frisar que, na planificação, estava 36 vezes a palavra criação escrita. O projeto artístico começa desde já a ser trabalhado e os primeiros frutos começarão a tornar-se visíveis no mês de março. O documento assenta em quatro linhas programáticas, que se relacionam entre si no decorrer do tempo – a criação, a formação, o pensamento e linha de apoio à criação.
O dramaturgo e encenador, Mickaël de Oliveira, mostrou-se “muito feliz” e, apesar de “não estar à espera” deste convite, foi algo que aceitou imediatamente. A experiência que teve no Teatro Académico de Gil Vicente ajudou, em parte, nessa decisão. Além disso, Guimarães é uma cidade onde sempre desejou trabalhar e “incrível para desenvolver um trabalho com calma”.
“Continuar a criar” é um dos focos do dramaturgo. “Faz parte da missão de uma companhia criar peças de teatro”, justificou. Nesse sentido, ainda com um título provisório, “Ensaio Técnico”, Mickaël de Oliveira vai apresentar no Espaço Oficina, entre setembro e outubro, a sua primeira criação para o Teatro Oficina. Esta criação vai reforçar, precisamente, a criação técnica de um espetáculo e levar os “espectadores a mergulhar numa dimensão teatral”. O texto será escrito pelo próprio em parceria com os atores que serão selecionados em abril através de uma open call.
Entre março e julho haverá um programa de residências artísticas, “Criação Crítica”, com acompanhamento técnico e dramaturgo. O objetivo do agora diretor artístico é “apoiar os artistas”, “fazer com que o artista não venha só ocupar um espaço, mas um espírito também”, bem como “pensar a forma de compor uma obra e a forma como o tema está a ser abordado”, explicou na apresentação.
Durante esse período, o Teatro Oficina propõe ainda apoiar o desenvolvimento de um texto literário na sua relação com a cena, através de uma Bolsa de Criação. Lembrando que, quando pensou em ajudar os outros criadores pensou “sempre na melhor forma de o fazer” tendo em conta o trabalho que estava a desenvolver, Mickaël diz que pensou “sempre em contexto cénico”. Assim, há também o objetivo de “ajudar a renovar o repertório das companhias” com literatura contemporânea. Em 2023, o programa espera oferecer três bolsas.
No que à formação diz respeito, as Oficinas vão continuar sobre o desenho anteriormente feito, voltando em outubro com um novo programa.
Da própria formação do dramaturgo e encenador nascem os “Encontros de Dramaturgia” com uma primeira edição a acontecer já entre março e maio. “A minha especialidade é a dramaturgia, é aquilo que mais me liga ao teatro e isto nasce de um projeto que queria fazer para mim. Estes programas nascem porque há uma vontade de me querer usufruir deles”, confessou na apresentação. Será convidado um dramaturgo para desenvolver um texto, tendo sempre em conta que vai existir um lugar de apresentação. “O desafio para esse dramaturgo é partilhar o seu processo com outros escritores” de teatro, dança ou performance, referiu.
Da necessidade de existir um “espaço para pensar as coisas” nasceu “Pensamento”, que está previsto arrancar a partir de abril. Na perspetiva de Mickaël, “criar não é fácil e ter condições para isso ainda menos”. Por isso, torna-se urgente “pensar alguns impasses, desafios e perpetivas da criação”. O objetivo é “pensar estes desafios da criação não só a nível formal, mas também a nível dos temas”, garantiu lembrando a “vontade saudável e lógica” de trabalhar com a Universidade do Minho.
“Antestreia”, a partir de março, vem mostrar que este é um “um projeto interno, que trabalha para dentro, mas que também se abre”. É a “parte pública e aberta” do projeto artístico do Teatro Oficina para 2023, uma vez que se trata do momento em que os processos e trabalhos desenvolvidos ao longo da programação são apresentados publicamente.
Continuando com a máxima de apoiar os artistas, surge a “Linha de Apoio à Criação”. Vem dar apoio a artistas e estruturas relativamente, por exemplo, a candidaturas a concursos para financiamento, mas também no que à produção e preparação diz respeito.
Fazendo referência ao Espaço Oficina e às rodas de oleiro, local onde foi apresentada a nova direção artística do Teatro Oficina e a partir de onde trabalha o mesmo, Paulo Lopes Silva disse que “o que cabe à Oficina é que a roda esteja em constante movimento”. “Estamos a meter as mãos na massa e a criar”, acrescentou o vereador da cultura e presidente da direção d’A Oficina.
Agradecendo a Sara Barros Leitão, que “deixou a roda a funcionar”, lembrou a vontade de “transformar o território também”.
O Teatro Oficina terá, agora, Mickaël de Oliveira ao leme por dois anos. Mas há projetos, como a biblioteca que a anterior diretora deixou, que serão para manter. “Dois anos é algum tempo, mas não é muito. É o tempo certo para pensar com alguma calma e ver resultados”, acrescentou, a finalizar a apresentação, Mickaël.
E dois anos pedem, também, que se seja “mais ambicioso na execução”, como referiu Rui Torrinha que acrescentou ainda que, em 2024, “o grande impacto deste programa será muito mais visível do que estarmos aqui a apresentar uma nova direção artística em sucessão vertiginosa”.
O valor global de financiamento para o programa em 2023 é de 75 mil euros.
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