O humorista Hugo Sousa esteve, este mês, a atuar no São Mamede CAE. Consigo, trouxe Chimpas Brito para “dar oportunidade a comediantes mais novos”. À Mais Guimarães, falou da sua ligação à cidade-berço, daquilo que lhe dá inspiração e até dos limites do humor.
Antes de mais, é seguro estar aqui contigo ou vais tirar a cabeça e ser alguém que não esperamos?
Isso era incrível, não era? Bem… não gosto de spoilers. São coisas do espetáculo e, por isso, não vamos falar disso [risos].
Guimarães é um sítio especial para ti por dois motivos, assumo. O primeiro, pelo “espetáculo covid” [risos] e, em segundo, porque sei que tens raízes aqui…
[risos] Sim, o meu avô era daqui de Guimarães. Apesar de ter ido morar para o Porto quando ainda era novo, sempre fez questão de me trazer cá. Vinha muitas vezes passear aqui, vínhamos ver os jogos do Vitória, uma vez que ele era sócio do clube. Aliás, era maluco pelo Vitória. Passeávamos pelo Paço dos Duques e pela Penha. Foram momentos que marcaram a minha infância. Tenho também amigos daqui de Guimarães. Tal como falei no espetáculo, passei, muitos anos, férias na Póvoa de Varzim e há muita gente de Guimarães a passar férias lá, o que me levou a fazer muitos amigos de cá. É uma cidade que faz parte das minhas raízes.
E as tuas tours passam quase sempre – ou mesmo sempre – por Guimarães… Passam sempre. Faço questão de vir aqui ao São Mamede. É um público que gostas?
Este público é incrível, até foi por isso que gravei, há dois espetáculos atrás, aqui no São Mamede. Foi o “Fora do Contexto”. Mas não posso dizer que é só o público de Guimarães. Eu tenho muita sorte e não me posso queixar. Às vezes perguntam-me se gosto mais do público do norte ou do público do sul e a verdade é que eu não me posso queixar de públicos nenhuns. Aqui, em Guimarães, como tenho esta ligação familiar e sentimental, sinto-me muito confortável por aqui.
Fazes normalmente uma tour por ano e acabas por te inspirar naquilo que também foi o teu ano. Como é que surge a inspiração num humorista?
Basicamente as pessoas que vêm ver o meu espetáculo ficam a saber o que me aconteceu no último ano. Como faço muito storytelling, conto as histórias daquilo que me aconteceu num passado recente.
Acho que esta é uma dúvida geral… Estas coisas acontecem mesmo ou há alguma invenção?
Acontecem mesmo. Há sempre uma base real. Agora também não queiramos saber mais que o Papa [risos].
Mas há sempre uma forma de as contar… Como é que se trabalha para ser humorista?
É muito trabalho de casa. Passo muitas horas em casa a pensar no que é que vou dizer. Metade do meu trabalho é de escritor, digamos assim. Eu escrevo as piadas todas, tenho tudo no computador, mas depois acontece uma coisa muito curiosa: uma grande parte vai para o galheiro. Uma coisa é quando estás em casa a escrever e outra é quando estás no palco. No palco, uma pessoa sente-se de maneira diferente, então a entrega também é diferente. Mudamos as piadas, mudamos a forma de dizer as coisas e começamos a acertar timings. É isto que eu acho que é fixe. Estou sempre muito nervoso até fazer o primeiro espetáculo, depois disso já fico a saber melhor o caminho. Quando chega o resultado final já não tem muito a ver com aquilo que está escrito no computador.
Acaba por ser também adequado ao local onde estás?
Tento acompanhar também um bocado a reação do público. Apesar de isto ser um espetáculo montado, que é sempre o mesmo, eu deixo sempre uma boa parte para o improviso e para falar com as pessoas. Acho que isso é que é fixe, até porque não consigo dizer palavra a palavra. Não tenho capacidade para isso. Nem quero. Eu gosto do go with the flow.
Se, tal como dizes, hoje em dia “qualquer merda tem seguidores”, qualquer um pode ser humorista?
Acho que, hoje em dia, já há mais oportunidades por causa das redes sociais e os artistas já não estão só dependentes da televisão. Cada um já pode ter a sua própria plataforma de Youtube e Instagram, tal como eu também tenho. Acho que o meu público vem mesmo daí e não daquilo que eu faço na televisão.
Com a pandemia, as redes sociais vieram trazer alguma força a estes artistas?
Claro que sim. Durante a pandemia, as redes sociais ajudaram. Pelo menos as minhas redes dispararam porque a malta estava em casa e queria entretenimento. Nessa altura, não havia esse entretenimento, então a malta procurou o digital.
E acaba por ser uma boa plataforma para quem quer crescer…
Sim, para todos os artistas, das várias áreas. O digital é uma coisa que cada um consegue controlar. Eu não consigo controlar aquilo que me convidam para fazer na televisão ou o que me convidam para fazer em espetáculos. Agora até consigo, uma vez que sou eu que os marco… Mas quilo que consigo realmente controlar é o digital e as minhas tours. Relativamente ao resto, é como um extra para mim.
Hoje trouxeste o Chimpas Brito para abrir o espetáculo. Também é bom os mais velhos darem palco àqueles que estão a começar?
O Chimpas é um comediante que eu já conheço há algum tempo. Agora, nesta tour, estou a dar oportunidade a comediantes mais novos. Há sempre um comediante a abrir o espetáculo. Eles aquecem o público e também é fixe para eles, porque atuam em salas grandes. Ou seja, é um win win. O Chimpas é o maior.
Qualquer pessoa que conhece um humorista não resiste a questionar… O humor tem limites?
Essa é a velha questão que todos os humoristas estão fartinhos de responder [risos]. A resposta que eu tenho para dar é… eu acho que o humor vai da cabeça de cada humorista. Acho que, felizmente, no nosso país, a lei ainda nos protege e temos a liberdade de expressão. Nos Estados Unidos há a quinta emenda que, de certa forma, protege. Claro que há sempre quem goste e quem não goste. Qualquer pessoa tem o seu direto a não gostar de piadas. Se não gosta sai e deixa de seguir o humorista. Considero que o humor é um pouco como a música: tens o rock and roll, tens o fado, o techno. Há pessoas que gostam mais de um estilo musical, mas também há pessoas que gostam de tudo. Também estão no direito de não gostar e expressar isso mesmo. Vivemos num país livre e está sempre tudo bem.
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