Mesmo com medo de tocar para apenas seis pessoas, como diz muitas vezes, Bárbara Tinoco subiu ao palco do Multiusos de Guimarães. O público esperava-a ansiosamente enquanto observava um cenário cheio de gatos, um carro pendurado, balões, e um aviso: “Neste concerto dizem-se palavrões. Por favor, não alimentar os gatos. Cantem todas as músicas que souberem, as outras também”.
Sem desalinhar as estrelas, Bárbara Tinoco entrou, com um público ainda tímido. A falar outras línguas mas nunca a fugir de ser ela própria, levou-nos ao momento em que, enquanto via Anatomia de Grey e comia gelado, “como qualquer adolescente com um amor não correspondido”, escreveu Sei Lá. Seguiu-se “Loira” e a sua versão de “Devia Ir”, que os mais novos cantam quase de trás para a frente.
Com uma plateia dos oito aos 80, a artista perguntou quem se lembrava “de um anúncio de cereais que era mais ou menos assim: se eu te der uma vaca, tiras-lhe o leite?”. Um Multiusos de Guimarães dividido e, simultaneamente, em êxtase. “Não me olhes assim que eu não penso dar-te” foi o mote para Advogado, a música que põe em evidência o original e a versão, o analógico e o digital. Bárbara Tinoco preparava-se, depois, para se pôr em cima de um skate e interpretar “Gisela”, um tema do seu EP “Desalinhados” que tem António Zambujo como convidado.
Num passeio pelo público, a mentora do The Voice Kids ficou a conhecer três casais que estavam juntos há muitos anos. Entre muitas gargalhadas e sorrisos, ficou claro que “respeito, amor e humor” são a base para um casamento feliz e o momento deu o mote para a canção que se seguiu, “Carta de Guerra”. Uma música que conta a história dos avós da artista e que são “as pessoas mais portuguesas do mundo”. “A minha avó vai todos os domingos à missa e o meu avô leu a Bíblia toda, mas não acredita em Deus. Os meus avós são aquele casal que passa o fim de semana fora e vão a chorar no carro com saudades um do outro, são um casal antigo, à antiga, como eram as coisas antigamente: o João não sabe estrelar um ovo, mas sabe matar as baratas lá de casa. As coisas mudaram muito, e ainda bem, mas eu gosto do João que mata as baratas à Maria e da Maria que estrelava os ovos do João e que não vivem um sem o outro e estão juntos há cinquenta anos”, apresentou.
A palco, logo de seguida, subiu “a melhor compositora e intérprete deste país”, a sua melhor amiga, Carolina Deslandes, acompanhada de Feodor Bivol. Há um ano descobriram que gostavam muito de compor juntas e, à cidade-berço, trouxeram uma dessas canções que escreveram em conjunto, “Coisas no Silêncio” e Carolina Deslandes fez uma surpresa ao interpretar o seu mais recente lançamento, “Vai lá”.
“Os compositores vivem para sempre dentro das suas canções”
Bárbara Tinoco recuou ao seu primeiro dueto, com os We Find You, e numa sentida e sincera homenagem a Miguel Faria, vimaranense que faleceu no início deste ano, cantou “Lembra-me”, com David Dias. “Os compositores vivem para sempre dentro das suas canções e o Miguel foi o compositor desta canção”, recordou.
Com o palco iluminado por telemóveis, deu vida à cidade, à cidade que são só luzes e, do lugar de onde se veem as estrelas, enumerou algumas das situações que considera tragédia: jantar salada, usar tampões, pessoas que fingem que não têm sentimentos maus…
“Os adultos podem dizer muitas coisas, mas quando são as crianças a dizer parece que tem outro peso”, disse logo após atuar com a sua equipa do The Voice Kids. Juliana, Rita, Rúben, Margarida, Alice e Joana cantaram “Lá Vai Uma” e “Grândola”, duas músicas que, de tão diferentes que são, nos trouxeram de volta a inocência da infância e a liberdade.
Depois de uma apresentação da sua equipa que ninguém estava à espera, com muitos “adoro-te, pai”, Bárbara Tinoco interpretou “Chamada não Atendida”, o single que sai esta sexta-feira e que encantou os fãs.
Terminou da forma que tudo começou, com “Antes dela dizer que sim”, não sem antes deixar um conselho aos mais novos. “Quero dizer a todos os meninos que estão aqui que a vozinha que têm dentro da vossa cabeça que diz “eu não consigo, eu não sou bonito, eu não sou o melhor da escola, eu não tenho as melhores notas, eu não sou bom a nada”… se vocês não a calarem desde pequeninos, vão começar a escrever canções de amor tristes. Eu agora já não tenho medo, sou feliz, e quando erro, errei, é normal”.
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