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Foto do escritorJoana Miguel Meneses

Catarina Peixoto: “Só desenhar bem é que está correto é a maior falácia de sempre"

Estudou design gráfico e publicidade na licenciatura e focou-se na ilustração no mestrado. Ainda sente que é “muito pequenina”, quer crescer, “mas a realidade é outra”. Recentemente, Catarina Peixoto venceu o primeiro prémio na Mostra Nacional de Jovens Criadores com 20 postais ilustrados sobre Guimarães, o seu “primeiro projeto pessoal”, com o objetivo de se mostrar.


© Cláudia Crespo

Catarina passou um mês em Bristol, onde ainda se vive a cultura dos postais. Quando voltou, enquanto passeava por Guimarães, apercebeu-se que vive numa cidade “muito turística”, mas que “não tinha grande oferta de coisas diferentes”. Escolheu, assim, ilustrar a sua cidade em postais, por acreditar que o seu trabalho se “encaixa muito bem nessa vertente cultural”. Numa cidade com “imenso potencial”, considera que os postais são algo para “eternizar” e confessa que, quando vai viajar, tenta “sempre perceber o máximo daquela cultura”. É isso que quer transmitir com esta coleção: “Quando viajas, o teu objetivo é levar um bocadinho daquela cidade e percebê-la um bocadinho mais”.


Apesar de ter já feito outros projetos, este é aquele que a vimaranense considera o seu “primeiro projeto pessoal”. Na faculdade “ninguém te ensina como te hás de promover, como é que podes crescer, onde é que o teu trabalho, se é muito característico, se pode encaixar” e Catarina está precisamente a procurar a resposta a essas questões. Considera este o lado mais “chato” de ter um negócio. “A produção são dois dias por semana e o resto é divulgação, falar com pessoas, networking. Isso é super cansativo, mas é bom!”, garante.


Ganhar este prémio ajudou, de alguma forma, a chegar mais gente, mas desabafa sobre o quão difícil é querer fazer diferente em Guimarães. “Tento sempre fazer os meus projetos para integrar, de alguma forma, o mercado. Tentei falar com museus locais, mas não respondem a emails, vais lá presencialmente e dificilmente te atendem”, conta mostrando que, apesar disso, acabou por falar com lojistas e ter “uma experiência interessante” que a permite agora conhecer melhor a realidade do comércio local.


As ilustrações levam-nos a viajar. No tempo, no espaço, na imaginação.


Quando estava a terminar a licenciatura, foi-lhe proposto fazer um trabalho com o tema “Diário de um Homem Morto”. Decidiu fazer um livro de artista sobre António Variações, grande e com materiais muito diferentes. Não está à venda, porque “o texto tem direitos de autor”, mas a ideia já lhe passou pela cabeça.


Sempre gostou de “fazer coisas muito diferentes e manuais” e durante o seu percurso nunca sentiu que se “encaixasse em algum sítio”. Pegou nessa sua maneira de ser e juntou-a à de António Variações tentando, assim, transmitir “Variações, uma pessoa excêntrica, completamente fora”.


Mas este não foi o único livro que nos mostrou e do qual falou com o maior sorriso no rosto. Tem muitos livros, “alguns deles foram usados, outros são novos, outros são inspirações”. Gosta de papel e de poder sentir as texturas, por exemplo. “Há coisas que não dá para passar para o online. Isso é o que complementa quando vendes um produto, é a diferença de um produto de dois euros ou de um produto mais caro”, argumenta Catarina.


Ainda durante a universidade conseguiu chegar às crianças através da ilustração de livros. Diz que quando está a ilustrar um texto, tenta sempre “passar alguma coisa mais do que o texto tem”. Se o texto diz que uma criança está a chorar, Catarina vai fazer algo mais para “complementar a ideia de alguma forma”. Trabalhou com a escritora Luísa Ducla Soares e testou o livro nas escolas para perceber se realmente funcionava. “Eles começaram logo a desenhar as coisas que eu tinha feito, copiar as personagens, tentam compreender aquilo que tu tens”, conta.


Para Catarina não há dúvidas, “toda as pessoas têm uma vertente criativa e toda a gente deve testar tudo o que tem, porque toda a gente tem esse potencial”. Acredita que “isso deve ser explorado, independentemente se é comercial, se é para ser vendido ou não”. O problema, contudo, começa na escola. Vivemos num mundo ainda “muito fechado, onde nos põem com uma série de medos e depois parece que não somos capazes de pegar numa tesoura e cortar um papel, um pedaço de papel aleatório”.


A verdade é que “não tem de haver sempre um propósito” para se fazer alguma coisa e esta jovem ilustradora teve a sorte de ter uma professora que lhe mostrou que “só desenhar bem é que está correto é a maior falácia de sempre”. Essa professora, conta Catarina, “aceitava e conseguia explorar o melhor de ti”. Foi quando começou “a perceber que tinha potencial”.


“Não tens de desenhar a cara de uma pessoa precisamente como a vês”, explica acrescentando que “a ilustração não é uma coisa certa e concreta”. Deixa, por isso, alguns conselhos para quem tem medo de arriscar, nomeadamente “cadernos que permitem trabalhar a criatividade, com desafios constantes que se pode ou não levar à letra. Nós temos de testar coisas diferentes e levar-nos ao limite. E se estamos habituados a fazer uma coisa, tentar fazermos outra completamente diferente”.




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