O voluntariado para a CED2013 foi contemplado na candidatura de Guimarães a Cidade Europeia do Desporto como um dos elementos estruturantes da mesma. “Com base em alguma experiência acumulada e especializada, tornou-se possível gerir com relativa naturalidade uma bolsa de voluntariado, que rapidamente avançou e se estruturou numa dinâmica extraordinária de vontades e dedicação”, lê-se no relatório de atividade de Guimarães 2013.
Helena Alves foi voluntária e vê 2013 como “um dos melhores anos” da sua vida. Lembra-se de estar constantemente entusiasmada pelo evento que se seguia. “Queria saber curiosidades sobre os atletas, perceber as diferentes modalidades e acrescentar valor aos eventos”, enumerou.
Uma década depois, Ana Raquel Martins percebe que os voluntários “são a imagem destes eventos, muitas vezes” e, “para além da componente logística (e não só), onde cada pessoa voluntária desempenhou o seu papel de forma bastante responsável e, por vezes, sem muita visibilidade, a forma positiva como as pessoas interagiam entre si, creio que acabava por se repercutir na dinâmica e no retrato que ficou das atividades”.
Já passaram 10 anos, é certo, e também é certo que às vezes a memória falha e as coisas deixam de estar tão presentes. Amélia Catarina tinha 15 anos quando foi voluntária na Cidade Europeia do Desporto, era uma das mais novas do grupo, mas nem isso tornou a experiência menos especial. “Criar amizades com pessoas mais velhas ajudou a abrir horizontes, ouvir outras opiniões, formas de pensar e estar, ouvir histórias… No meu caso, só sinto que foi enriquecedor”, disse à Mais Guimarães.
Esta questão da diferença de idades, lembra Ana Raquel, “poderia ser mote para alguma divergência”, mas nunca sentiu isso ao longo daquele ano. “As maturidades emocionais eram diferentes, certamente, e foram fonte de bastante aprendizagem. Se, por um lado, pessoas mais velhas traziam experiência e calmaria, por outro, também nós, enquanto jovens e adolescentes, levávamos algum caos, no bom sentido da palavra, também ele necessário, por vezes, e leveza na resolução dos problemas”, explica recordando que ainda não tinha 18 anos e que criou ligações com pessoas de várias idades.
As amizades feitas “e que ficam para a vida” parecem ser destaque para todos os voluntários com quem a Mais Guimarães falou. Paulo Monteiro garante ter sido dos melhores anos que teve “em termos de relacionamentos com pessoas”. Consigo levou a filha, Cátia Monteiro, para quem a importância dos voluntários foi “imensa, pois muitos dos eventos acarretavam várias responsabilidades e sem os voluntários muitos não teriam sido realizados”.
O facto de não haver diferenciação entre os mais jovens e os mais experientes foi, para Helena, uma das chaves para o sucesso. “O ambiente que se vivia nos bastidores era inexplicável”, diz relembrando aquilo que diziam muitas vezes: “Guimarães não pára… e nós também não!”. Uma frase que facilmente justifica com o facto de viverem todos os eventos “com muita vontade de fazer acontecer com qualidade”.
18.500 horas de voluntariado
Para Paulo, que fez “centenas de horas de voluntariado com muito orgulho”, os “voluntários foram um grande motor de movimento da Cidade Europeia do Desporto”.
Destaca o campeonato de atletismo, a final da taça de Portugal em futsal, a final dos Jogos da Comunidade, os Jogos do Eixo Atlântico, a Feira Afonsina, e o Open de Guimarães. Este último foi um dos eventos que grande parte dos voluntários destacam. Foi aquele que mais marcou Helena. Para uma miúda de 18 anos, “um torneio internacional era maravilhoso” e existia um vasto leque de atividades para os voluntários: acreditação, apanha bolas, entrega de prémios.
Lembra-se que se divertiram “muito nos campos de ténis livres e talvez com o insuflável que existia à entrada do recinto -” e assegura que queriam “proporcionar uma excelente experiência aos atletas e às suas equipas”, tendo “vibrado muito com o (nosso) João Sousa”.
Apesar de acreditar que foi o evento que exigiu mais de si, Ana Raquel acredita que o Guimarães Open trouxe “algo de novo para a cidade”. “Para os voluntários, o contacto com atletas de alta competição, muitos deles, seus ídolos, foi algo altamente motivacional”, frisa. Um evento que recorda “pela exigência, pelo resultado final”, mas também pelo prazer que sentiu em trabalhar, naquela semana, enquanto voluntária.
“Guimarães não para” foi a frase que marcou aqueles quase 365 dias. Na perspetiva de Cátia, a cidade berço continua a não parar. “Desde 2013 as modalidades desportivas já existentes na cidade evoluíram e desde aí foram acolhidas novas e que já nos deram títulos”, justifica.
Ana Raquel acredita que Guimarães está “a progredir no sentido de criar mais oportunidades e incentivos à prática desportiva”. Contudo, lamenta que a dinamização de eventos desportivos não seja tão frequente e tão frequentemente publicitada. “Tenho pena que algumas das atividades que se realizaram no ano de 2013 não tenham tido continuidade. O Guimarães Open é uma delas”, exemplifica.
Não deixa, porém, de referir que, “para além do seu slogan, a Capital Europeia do Desporto, pretendia gerar oportunidades de prática desportiva mais sustentáveis e inclusivas e, neste sentido, Guimarães pode e deve fazer jus ao slogan de 2013, e não parar. Há sempre muito trabalho a fazer neste sentido”.
“O dinamismo é palavra de ordem” na opinião de Ana Raquel e “é algo que Guimarães deve procurar perpetuar no futuro, porque, efetivamente, gera crescimento da cidade nas suas várias vertentes”.
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