Inês Sousa e Maria Inês Jordão embarcaram, em fevereiro, no programa Spirit Experiência. Durante três semanas, fizeram de São Tomé casa.
Tomar a decisão de ir não foi difícil uma vez que o voluntariado está já há alguns anos presente na vida destas duas vimaranenses. “Sentia que muito do tempo disponível que tinha, podia dedicá-lo a quem mais precisasse. Sempre fiz voluntariado em Guimarães, mas queria entrar em contextos diferentes”, conta Maria Inês. Com 25 anos e desempregada, acreditou que este seria o momento “perfeito para juntar o útil ao agradável”.
Inês Sousa diz que não pensou muito nos entraves em relação aos seus trabalhos, sentiu que era a sua oportunidade. “Inscrevi-me no dia 30 de janeiro, e a nossa aventura iniciou no dia 25 de fevereiro”, recorda enquanto explica que fazer voluntariado era “um sonho enorme, mas daqueles que sentimos que, lá no fundo, não se vão realizar num futuro próximo porque nunca é a altura certa”.
Passaram pouco mais de 20 dias desde o momento da decisão até começar a aventura. Relembra que, nesses dias, acordava “com um sorriso na cara, passava o tempo a imaginar como iria ser, como seria o país, a cultura, as pessoas e, principalmente, as crianças com quem iria trabalhar”. Fez e desfez a mala “só para sentir que já estava mais perto do dia, no trabalho sentia que já não conseguia focar muito. Viajei muito antes de meter os pés naquele avião”, confessa à Mais Guimarães.
Maria Inês adianta que não existem requisitos, “apenas vontade, motivação e um espírito aberto”. É necessário, explica, “que o voluntário entenda que vai para uma cultura diferente e que tem de se adaptar, respeitar a cultura e os hábitos do país para onde vai”.
Depois da inscrição, houve uma entrevista por vídeo para perceber qual era a motivação de cada uma, conhecê-las um bocadinho melhor e falar sobre o projeto (educação ambiental, apoio ao estudo, proteção das tartarugas marinhas, empoderamento feminino e fotografia, comunicação e multimédia) que lhes suscitava mais interesse. Após a seleção, é realizado um bootcamp, que acabou por se realizar online, com a duração de dois dias, na qual fazem uma preparação para o terreno.
“Quando cheguei a São Tomé, senti logo o choque ambiental. O calor era abrasador e chegamos de noite”. Quem o diz é Maria Inês que, de forma nostálgica, recorda o acolhimento das pessoas. “Foi incrível, os são-tomenses são muito interessados em conhecer os “brancos”, como nos chamam. Quando sabem que somos voluntários e que estamos lá para os ajudar, ficam radiantes, com os olhos brilhantes, ficam mesmo felizes e querem logo fazer amizade”.
Ambas se mostraram “incomodadas com o estado físico e mental dos animais, principalmente cães. Desorientados, esfomeados, muito magros, com muitas feridas, a mancar… A maior parte dos locais vêm-nos como pragas, enxotam-nos como nós fazemos às moscas”, acrescentam. A miséria, descreve Inês Sousa, “é notória: barracas que servem de casa, falta de canalização e energia em vários locais, muita carência de hábitos de higiene… é um mundo à parte”.
Por outro lado, garante que “o maior choque é bem positivo: ver aqueles sorrisos rasgados com tão poucos recursos, uma leveza e uma capacidade de valorizar apenas aquilo que realmente é importante é inexplicável”.
Três semanas em São Tomé, reflete, “é ser bem recebido em todo o lado, é ser admirado e respeitado por todos, é ouvir piropos a todos os segundos e rir com eles, é apanhar boleia dos locais e ouvir “se estão aqui a ajudar o meu país, claro que eu vos quero ajudar também”, é sentir que transmitir o nosso “básico” de ensino é um mundo de informação enriquecedora para eles, que passar dias sem água em casa e ter de a gerir até à última gota é normal, que ficar sem eletricidade de vez em quando também é normal e que só temos de esperar porque não existem soluções, é aprender a lidar com as adversidades com a leveza deles. É chegar a casa a sentir-me impotente, feliz, útil , capaz, cansada, realizada, enorme e pequenina. Tudo no mesmo dia”.
Uma experiência de voluntariado em São Tomé é uma experiência de crescimento e de muitas aprendizagens. “Aprende-se muito, aprendemos a gerir bastante as nossas emoções, a gerir conflitos, aprendemos a cultura deles e a adaptarmo-nos aos seus modos de viver e aos seus modos de ensino”, exemplifica Maria Inês que garante que, “quando nos entregamos de braços abertos a experiência é incrível!”.
Inês Sousa ainda está a assimilar tudo o que viveu: “talvez nunca vá conseguir descrever o quão importante e especial foi esta experiência para mim. Aprende-se a olhar para tudo de outra forma. A descomplicar, a respeitar outras formas de vida por muito que não concordemos com elas, a valorizar o que aqui olhamos como dado adquirido, a perceber que o que nós consideramos básico para eles é um autêntico luxo, a ser grata por todas as pequenas coisas”.
A mala voltou para Guimarães “só com coisas boas: a experiência em si e os meninos do apoio escolar que vão estar sempre no coração”. As aprendizagens e competências sociais e profissionais “certamente vão também ajudar no futuro, no mercado de trabalho”, acredita Maria Inês.
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